Garnier confirma reunião com Bolsonaro, mas nega ter colocado tropas à disposição
Segundo ex-almirante, as Forças Armadas ‘não encontraram fraudes no sistema eleitoral’
Brasília|Do R7

O militar da reserva e ex-comandante da Marinha Almir Garnier confirmou, durante interrogatório ao STF (Supremo Tribunal Federal) que se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro após a derrota nas Eleições de 2022, mas negou ter colocado as tropas à disposição para uma suposta manutenção do poder. “As Forças Armadas não encontraram fraudes no sistema eleitoral”, justificou, nesta terça-feira (10).
Segundo o militar, o ex-chefe do Executivo tinha uma preocupação com pessoas que estavam insatisfeitas e que estavam nos quartéis. ”Não se sabia para onde ia o movimento” afirmou ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo interrogatório no processo da tentativa de golpe de Estado.
Além disso, o almirante afirmou que não recebeu a chamada “minuta do golpe” de forma física, mas que se lembra de uma apresentação exibida aos participantes da reunião.
“Houve uma apresentação de alguns tópicos de considerações que poderiam levar a, talvez não foi decidido isso naquele dia, a decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ou de necessidades tradicionais, visando principalmente a segurança pública”, completou.
LEIA MAIS
Ainda sobre o conteúdo do material, Garnier também afirmou que não se lembra da totalidade dos tópicos apresentados. “Sinceramente, eu não lembro dos detalhes, porque como disse o senhor, algo apresentado em uma tela de computador, onde não se aprofundou em nada, mas era parte talvez de uma análise do cenário político e social do Brasil aqui no mundo.
Urnas eletrônicas
O ex-comandante da Marinha reforçou que não era crítico às urnas eletrônicas, mas defendeu que “o presidente, assim como qualquer outro ator, eleito pelo povo, tem o direito de se expressar sobre o que quiser dentro da democracia”. Ele também acrescentou que defendeu a transparência do processo. “É de meu conhecimento que quanto mais auditorias e verificações em sistemas, teremos uma maior certeza que esse sistema vai trabalhar para o que foi desenhado. A minha defesa é que quanto mais auditoria, melhores seriam os resultados”, ressaltou.
Blindados
Garnier também negou que um desfile de blindados realizado em agosto de 2021 tivesse como objetivo pressionar a Câmara dos Deputados no dia da votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do voto impresso.
Veja também: Garnier nega que desfile de blindados tenha sido pressão para aprovação do voto impresso
“O presidente da Câmara decidiu levar ao plenário e marcou para a data em que já estava previsto todo esse deslocamento”, afirmou. O desfile ocorreu no dia 10 de agosto e contou com a participação do então presidente Jair Bolsonaro, que acompanhou a agem dos tanques militares.
Relembre
Os interrogatórios dos réus do “núcleo 1″ começaram nessa segunda-feira (9), com as falas do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e do deputado federal e ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem.
Veja imagens dos interrogatórios sobre tentativa de golpe de Estado
As audiências ocorrem na sala da Primeira Turma do STF, que conduz a ação penal do caso. O Supremo ainda precisa ouvir cinco réus:
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e candidato a vice de Bolsonaro em 2022.
Braga Netto é o único que será interrogado por videoconferência, visto que o militar está preso de forma preventiva desde dezembro de 2024.
Crimes dos réus
Quase todos os réus do “núcleo 1″ são acusados de cinco crimes:
- Organização criminosa armada;
- Tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito;
- Tentativa de golpe de Estado;
- Dano qualificado pela violência e grave ameaça; e
- Deterioração de patrimônio tombado.
A única exceção é Alexandre Ramagem, que responde por tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa armada.
Por decisão do STF, a ação penal contra o deputado em relação aos outros dois crimes só vai ser analisada ao fim do mandato dele.
Veja a ordem dos interrogatórios dos acusados de tentativa de golpe de Estado
O que disse Mauro Cid
Mauro Cid foi o primeiro a ser ouvido pelo STF por ter fechado acordo de delação premiada. Durante o interrogatório, que durou cerca de 4 horas, Cid confirmou que, em novembro de 2022, depois de Bolsonaro ter perdido as eleições para Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente recebeu a chamada minuta do golpe, um documento que previa a realização de um novo pleito.
Cid disse que Bolsonaro recebeu, leu e fez alterações no documento, que previa a anulação das eleições de 2022. Segundo ele, Bolsonaro teria “enxugado” o texto original, retirando trechos que mencionavam a prisão de autoridades do Judiciário e do Legislativo.
Esses nomes teriam sido retirados por Bolsonaro na tentativa de “suavizar” o decreto. Contudo, segundo Cid, Bolsonaro manteve o trecho que previa a prisão de Moraes, que à época era presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
“O presidente Jair Bolsonaro recebeu e leu esse documento. E fez algumas alterações no documento. De certa forma, enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões”, disse Cid.
A minuta, segundo Cid, previa ainda a criação de uma comissão eleitoral para organizar um novo pleito, mesmo após o resultado oficial que elegeu Lula. “Seria produzir uma nova eleição baseada numa eleição anulada”, afirmou.
Interrogatório de Ramagem
Ouvido depois de Cid, Ramagem negou ter difundido documentos com críticas ao sistema eleitoral brasileiro. Ele afirmou que o material atribuído a ele, contendo desconfianças sobre as urnas eletrônicas, era um “documento privado” com “opiniões pessoais” que jamais foram compartilhadas oficialmente.
Um dos documentos foi identificado com o nome de usuário “aramagem” e, segundo o inquérito, teria sido criado em 10 de julho de 2021 e modificado pela última vez em 27 de julho daquele ano. O conteúdo apresenta uma narrativa voltada a desacreditar o processo eleitoral brasileiro e as urnas eletrônicas.
“Tudo o que coloquei nesse documento são anotações pessoais, privadas. Não houve difusão ou encaminhamento. Era algo meu, com opiniões privadas, não oficiais. Não foi compartilhado com ninguém”, afirmou Ramagem.
Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp